Caros colegas,
Tenho me mantido afastada do processo de luta pelo reconhecimento de “nosso” campo de públicas nos últimos anos, por divisão de tarefas em nossa instituição (FGV-SP). Mas participei ativamente no início, como sabem os que estão há mais tempo neste “movimento” , procurando contribuir para a elaboração de diretrizes próprias, em que a formação específica em pública seja garantida.
Uma formação superior que articule administração e política (o que as formações disciplinares clássicas de administração e de ciência política não fazem) e que tenha um “objeto singular”, a área pública, estatal e não-estatal, representa um avanço importante para o ensino de qualidade na área, no Brasil, bem como para a melhoria da gestão pública.
Diante das dificuldades enfrentadas no reconhecimento da área, do longo (enorme) período decorrido desde o início deste processo, e do esforço de nossos colegas que estão na liderança deste processo em nome do grupo de públicas, não posso deixar de me manifestar.
A luta pela constituição de um campo de públicas no Brasil não é nova, nem será fácil, mas é fundamental.
Lembro que a luta não é nova no Brasil, nem as reações contrárias à constituição do novo campo.
Lembro ainda que a reação à constituição de novas áreas de estudo e de formação também ocorreu em outras áreas. Houve forte reação da área de engenharia à constituição de uma área autônoma de arquitetura. Houve também resistência da economia à constituição da área de administração.
A resistência a uma formação diferenciada em administração pública (anterior à tendência mais recente de constituição de um campo multidisciplinar “de pública) existe, por sua vez, desde os anos 60 do século passado. Em documento da Conferência Nacional de Administração Pública de 1967, esta resistência (tendência hegemônica e então vencedora) já era registrada:
“A tendência, no Brasil, é claramente a favor do currículo integrado… Essa tendência tem sido incentivada pelo Conselho Federal de Educação, através de suas normas sobre o currículo mínimo para ‘administração’, e não para ‘Administração Pública e de Empresas’” (Conferência…, 1967:256 apud FARAH, 2011: 830).
Com relação à tentativa atual de manter administração pública, políticas públicas e gestão de políticas públicas e outros cursos “de públicas” subordinados a diretrizes de administração, gostaria de lembrar o quanto a área de administração pública e a de políticas públicas têm caminhado no exterior de forma independente.
O movimento de reforço de laços com programas de fora do país (internacionalização), que está sendo estimulado pelo governo para a pós-graduação e para a graduação, daqui a algum tempo exigirá que identidades sejam esclarecidas. O que é exigido de programas de políticas públicas e de administração pública não é absolutamente coberto por uma formação em administração.
A propósito do que estamos vivenciando, gostaria de sugerir a leitura de artigo que publiquei na RAP – Revista de Administração Pública – versão preliminar de pesquisa sobre a formação e desenvolvimento do campo de política pública nos EUA e no Brasil.
Esta luta para trilhar um caminho próprio ocorreu também nos EUA – nos anos 60 e 70 do século passado!
Lá a luta teve sucesso e o campo de “políticas públicas” se constituiu de forma independente.
O artigo se intitula “Administração Pública e Política Pública” e a referência completa é:
FARAH, Marta Ferreira Santos
Administração Pública e Política Pública. Revista de Administração Pública (Impresso). , v.45, p.813 – 836, 2011.
E pode ser lido a partir do seguinte link:
http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/rap/article/view/7016/5575
Marta Ferreira Santos Farah
Coordenadora do Programa de Mestrado e Doutorado em Administração Pública e Governo
FGV-EAESP